segunda-feira, 15 de abril de 2013

Pequeno Romance


Ela, quando criança, sentava sobre o meio fio da calçada, em frente à escola onde estudava e sonhava acordada. Via mesmo, entre as folhas do pé de abacate, elefantes rosados e pintados e coloridos. Leves e redondos, com trombas ímpares.
Ele, quando menino, deitava-se sob os galhos de um pé de goiaba. Achava que visualizava, entre uma folha e outra, pequeninas formigas que tinha corpo triangular e carregavam pitanga e matinhos, direto para o formigueiro, logo ali do lado.
Ela, quando criança, deitava-se sob os galhos de um pé de carambola e podia até sentir o cheiro de jaca e conversava com quem não estava lá e criava cenários improváveis de situações medonhas em que sempre uma jovem fada, ela, ganhava dos monstros que a atacava.
Ele, quando menino, sentava-se sobre o meio fio da calçada, sob o céu do meio dia, só para assistir ao jogo de pelada que corria pela rua toda, com todos os outros garotos. Nesse meio tempo aprendia a falar palavrões e fazer pipa.
Ela, quando moça, ia a igreja todo domingo,  fazer catequese porque era bom vestir vestido branquinho e macio.
Ele, quando moço, ia a igreja todo domingo, porque a mãe mandava e quando mãe mandava era melhor obedecer.
Ela, quando na igreja, sentava-se bem na frente só para ver os quadros da virgem que com sorriso largo e braços abertos, acolhia.
Ele, quando na igreja, ficava de pé só para ser o primeiro a sair, assim que ninguém notasse.
Ela, quando adulta, calculava o valor das roupas e planejava o futuro. Vivia pelos estudos. E trabalhava sem pensar.
Ele, quando adulto, saia com os amigos. Vivia a boemia e gastava o que podia. E não pensava em nada mais que o próximo dia.
Ela, já idosa, sentava-se em um banco, em um jardim.
Ele, já idoso, sentava-se em um banco, em um jardim.
Ela na casa de cor azul, do lado esquerdo da rua.
Ele na casa de cor vermelha, do lado direito da mesma.
Ela: sentava-se e olhava.
Ele: sentava-se e olhava.
Então um dia, ela olhou para o céu e imaginou. E ele apareceu ali, com um pedaço de torta que aprendera com sua falecida esposa. E ela pensou ainda estar imaginando. E ele sentou-se no mesmo banco. E juntos foram procurar elefantes rosados e formigas ímpares.  

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