segunda-feira, 1 de abril de 2013

Inversões

Antes de mais nada, quero dizer que gosto de animais. Gosto mesmo de pets. Tive vários na minha feliz e saudável infância. Fui a maravilhada proprietária de diversos. Desde contentes hamsters até serelepes cães, passando por exemplares como tartarugas fujonas e coelhos de olhos vermelhos demoníacos (essa era a impressão de uma garota de 8 anos).
Dito isso, sinto-me livre para dizer que não entendo, ou compactuo, com alguns desvarios. Não me sinto à vontade com os rios de dinheiro gastos com roupinhas, spa e afins. E sim! Fico pasma quando vejo em alguma reportagem que a dona de um desajustado papagaio o leva ao psicologo por que, coitado, este está com problemas de desajuste social. Como assim, minha senhora?
- Pois é doutor. Meu bebê não fala mais. Acho que está tendo problemas. Talvez esteja se sentindo assim devido ao bulling que anda sofrendo por parte de alguns periquitos e pombos. Os periquitos são moradores do apartamento do andar de cima e eu os impeço, quando posso, de perpetuar o sofrimento imposto a ele, mas já quanto aos pombos é me impossível alivia-lo. São vagabundos que sempre vem a minha janela. Tenho medo que ele nunca mais volte a falar. Ou pior, doutor, que suas penas caia por isso.
- Entendo senhora, mas pergunte ao papagaio como ele se sente sobre isso. Claro que podemos fazer sessão de psicoterapia e após a anamnese poderia dar-lhe o prognostico do infeliz animal... desculpe, membro de sua família. Mas diga-me, dona Carla: como vai a família? a última vez em que nos vimos foi quando seu cachorrinho estava tendo crise de identidade... Lembra-se? pensava que era um gato. Como vai o marido e o filho?
- Ah doutor, minha família vai bem. Só meu marido que não vejo a algum tempo. Tem passado até mesmo o horário de folga no trabalho e Ricardinho agora deu pra falar em morte e suicídio... veja bem? Precisa de uns tapas. Dou tudo pra aquele garoto e ele, ingrato... tem tv, internet, dinheiro. Não entendo o quê mais quer. Bom... passar bem. Trarei meu o bebê amanhã mesmo.
E lá vai ela, preocupada com o papagaio que não fala e com o cachorro que quer ser gato, mas sem perceber que o marido posa de gavião e encontra-se as voltas com a nova felina, a secretária, e que o filho, saído de seu ventre, não tem a mãe, que é mãe de bicho somente. Não me surpreenderia se ele sim, o garoto, quisesse ser cachorro.

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