quarta-feira, 20 de março de 2013

Visita Íntima


Não adianta. Ponto. Nunca vou me acostumar com isso. Mesmo depois de dez anos ainda é extremamente constrangedor e decepcionante minha ida ao ginecologista para os exames de rotina. Uma vez por ano estamos lá, os dois. Ele mudou um pouco desde a primeira vez. Mas não o suficiente. Sempre calado no início, sorriso frio. Quanto à mim... Bem... essa não mudou nada desde a primeira.
Minha pergunta é sempre: o que devo vestir. Sim, o que devo vestir? É um compromisso importante. E ele vai me ver sem roupa. Qual roupa intima escolher? Será que ele gosta de vermelho? Hum... não, melhor não. Não queremos provocá-lo, afinal ele não me liga no outro dia mesmo. Que seja bege então. É o que ele merece.
Para as pessoas que me conhecem, que convivem comigo, é estranho entender que lá dentro daquela sala sou muito tímida e arredia. Não sei o que acontece. Simples assim. Minhas pernas chegam a doer de tanto que balanço, na impaciência, momentos antes de entrar no consultório. E então, me chamam.
Os bons dias ou boas tarde costumeiros. Um como vai, para ser educados. Então: o que a trouxe aqui? (como se ele não soubesse!) Senti sua falta? Era o que ele esperava? Hum... difícil não ser grosseira mentalmente com o cara que nem sabe meu telefone de cor. Bem, vamos ao exame então.
Essa é a parte que não sei o que ocorre, mas todo meu vasto vocabulário foge. A partir desse momento, falar português, bem qualquer outra língua, incluído sinais, me é difícil. Minhas respostas iram se restringir a alguns sim ou não balançar de cabeças e dar de ombros. Tem também alguns sons produzidos no intuito de parecer alguma coisa diferente de não e sim. Sabe como é?! Eu poderia até ficar calada, mas e a educação? E os bons modos?
O chato mesmo é que em determinado momento, eu numa posição ginecologicamente desconfortável, se é que o leitor me entende (se for mulher vai entender mesmo), ele se esquece que estou ali e começa a falar sobre futebol com a auxiliar. Futebol? Por favor, cidadão! Isso ai meu amigo, onde você tá com as mãos dentro não é um campo de futebol, ok? Aff... taí assunto que detesto, ainda mais quando falam sobre mexendo na minha vulva. Pergunto se ainda vai demorar. Ele responde que não. E volta a me ignorar. Aparentemente meu púbis não é tão interessante quanto o último gol do Neymar.
Minutos depois. Levanta-se. Sorrir e fala: tudo ok. Recebo dois tapinhas no joelho e um vista-se. Como? Já? Assim?
Após me trocar e ele me passar os pedidos dos exames, diz até logo. Até logo o carai. Dessa vez vou trocar de gine. Quero um mais romântico. Custava reparar na depilação, por favor. Aff. Homens. 

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