Não adianta. Ponto. Nunca vou me acostumar com isso. Mesmo
depois de dez anos ainda é extremamente constrangedor e decepcionante minha ida
ao ginecologista para os exames de rotina. Uma vez por ano estamos lá, os dois.
Ele mudou um pouco desde a primeira vez. Mas não o suficiente. Sempre calado no
início, sorriso frio. Quanto à mim... Bem... essa não mudou nada desde a
primeira.
Minha pergunta é sempre: o que devo vestir. Sim, o que devo
vestir? É um compromisso importante. E ele vai me ver sem roupa. Qual roupa
intima escolher? Será que ele gosta de vermelho? Hum... não, melhor não. Não
queremos provocá-lo, afinal ele não me liga no outro dia mesmo. Que seja bege
então. É o que ele merece.
Para as pessoas que me conhecem, que convivem comigo, é
estranho entender que lá dentro daquela sala sou muito tímida e arredia. Não
sei o que acontece. Simples assim. Minhas pernas chegam a doer de tanto que
balanço, na impaciência, momentos antes de entrar no consultório. E então, me
chamam.
Os bons dias ou boas tarde costumeiros. Um como vai, para
ser educados. Então: o que a trouxe aqui? (como se ele não soubesse!) Senti sua
falta? Era o que ele esperava? Hum... difícil não ser grosseira mentalmente com
o cara que nem sabe meu telefone de cor. Bem, vamos ao exame então.
Essa é a parte que não sei o que ocorre, mas todo meu vasto
vocabulário foge. A partir desse momento, falar português, bem qualquer outra
língua, incluído sinais, me é difícil. Minhas respostas iram se restringir a
alguns sim ou não balançar de cabeças e dar de ombros. Tem também alguns sons
produzidos no intuito de parecer alguma coisa diferente de não e sim. Sabe como
é?! Eu poderia até ficar calada, mas e a educação? E os bons modos?
O chato mesmo é que em determinado momento, eu numa posição
ginecologicamente desconfortável, se é que o leitor me entende (se for mulher
vai entender mesmo), ele se esquece que estou ali e começa a falar sobre
futebol com a auxiliar. Futebol? Por favor, cidadão! Isso ai meu amigo, onde
você tá com as mãos dentro não é um campo de futebol, ok? Aff... taí assunto
que detesto, ainda mais quando falam sobre mexendo na minha vulva. Pergunto se
ainda vai demorar. Ele responde que não. E volta a me ignorar. Aparentemente
meu púbis não é tão interessante quanto o último gol do Neymar.
Minutos depois. Levanta-se. Sorrir e fala: tudo ok. Recebo
dois tapinhas no joelho e um vista-se. Como? Já? Assim?
Após me trocar e ele me passar os pedidos dos exames, diz
até logo. Até logo o carai. Dessa vez vou trocar de gine. Quero um mais romântico.
Custava reparar na depilação, por favor. Aff. Homens.
você é demais :D
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