- Oi. Tudo bem? - Aquele momento em que você pensa: eu
conheço?
A mulher na sua frente. Estática. Esperando uma reação e você
lá, esperando entender. Ah! A educação. Essa coisa maravilhosa e que às vezes
nos inferniza. Fosse eu um pouco menos civilizada, diria não e sairia dali,
indo em direção a alguma outra vitrine, mas não. Minha mãe se esmerou na
educação dos filhos. Resultado: sorriso forçado. Não aquele sorriso leve. De
canto. Aquele sorriso de pum mesmo. Amarelo. Que não mostra os dentes. Esse é o
melhor que eu consigo dar praquela pessoa.
- Oi. Tudo. E você? – respondi.
Vai que conheço
mesmo. Minha memória é péssima. Já é motivo de anedota na família. Teve uma vez
que não reconheci uma vizinha que morava ao lado de casa há uns cinco anos.
Nunca fui muito sociável. Eu e meus livros éramos mais aparentados que qualquer
outro membro da família, imagina se eu ia conhecer quem jogava lixo sobre o
muro do lote da casa dos meus pais?!
- Tudo ótimo, menina. A Fernanda vai se casar semana que vem.
Você precisa ver como ela está ansiosa.
Era tudo o que eu
precisava. Não bastasse ter que me recordar da senhora à minha frente, agora
tínhamos um segundo personagem. E pior. Apenas com os dados de nome e às vésperas
de núpcias. Lembra, Elle... Lembra... Quantas amigas mesmo que você tem em
idade casadoira e que estão querendo casar ou que estão conseguindo - conseguindo
é muito importante -casar? Pensa... Envio o máximo de estímulos pro meu cérebro
lerdo. Processa cérebro, processa... Sorriso fica um pouco torto agora. Desfeito
pelo esforço. Tô tentando gente, tô tentando.
- Olha. Que coisa... Que bom... Fico feliz por ela... Tá tão
difícil encontrar alguém bacana hoje em dia... Um homem bom é muito difícil...
Epa! Porque ela franziu o cenho? Frio na espinha. Eu sei, eu
sei. Deveria ter dito que não me lembrava dela já no segundo parágrafo, mas eu
sou assim... Não dou conta. E se eu conhecesse a dita. Como ela ia se sentir?
Magoada, no mínimo. E se fosse comigo? Então vamos tentando manter a farsa...
Até que ela se complica. E fica insustentável. Por que ela mudou a expressão
mesmo?
- Homem? Não, menina. Então você não sabe? A Fê vai casar
com a Clara. Agora que a família da Clara finalmente aceitou. Finalmente, viu? Ela
até ameaçou se matar. Imagina?
É imagino... Imagino o que vou fazer agora. Digo pra ela “Que
bom que as coisas deram certo afinal” ou tiro a máscara e digo “sinto muito,
mas não sei quem você é”? Seria simples. Se eu fosse simples. Se não tivesse
problemas que Freud se encarregaria de assinalar como relações ambíguas. Sabe
como é: castração, sentimento de amor e ódio, talvez uma pitada de necessidade
de apreciação. De ser boazinha.
- Não. Eu não sabia.
Seria ótima
oportunidade. Um “Olha uma blusa linda ali que quero. Bom te ver. Se cuida, viu?”
resolveria. Por que não falo isso? Não tenho tantas vidas assim e a curiosidade,
você sabe, me mata qualquer hora.
- Mas como foi que elas convenceram a família da Clara?
- Há! Foi fácil até. O seu marcos foi pego saindo do motel
com o namorado. Aí não teve mais como, né?! Tanta hipocrisia... Um homem
casado! Veja bem. As meninas ficaram felizes. Hum... Olha. Acho que não conheço
você. Você não é a Fabíola, ex-namorada do Pedro que é filho do Rodrigo e da
Lúcia que a mãe morreu ano passado?
- Não senhora. Não sou.
Sorriso fica mais sincero agora. Meio tímido. Mas, ufa! Finalmente ela se deu conta da confusão.
- E você não tem vergonha? Ficar perguntando da vida dos
outros assim? Pura fofoca. Essa gente que não tem mais o que fazer!
A dona me dá as costas e vai embora. Pisando alto. Coisas
que eu realmente mereço. Levei bronca por tentar ser educada. Culpa da minha
mãe. Será que Freud entenderia minha queixa?
Delícia de texto!
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirMtoooo bacanaaaa Giiii, continue postandooo ! ! !
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